31 janeiro 2006

A revolta dos militantes

"Por exemplo se tivesse havido 'primárias' dentro do PS para a escolha do candidato presidencial a apoiar, seguramente que se teria evitado a cisão que ocorreu no partido e no eleitorado socialista sobre o assunto"

Vital Moreira, hoje no Público.

Por exemplo. Mas talvez nem fosse preciso chegar a tanto. É que, mesmo sem "primárias", se José Sócrates tivesse submetido a sua escolha a prévia reflexão e debate no seio do PS, em vez de impor, como impôs, a sua vontade pessoal a todo o partido, qualquer que fosse o escolhido (Soares, Alegre ou outro) teria certamente uma votação mais expressiva do que aquela que o próprio Manuel Alegre obteve.

A "derrota" do PS, perdão, do candidato do PS, começou por aí. Atirados para a margem e sem voto na matéria quanto à escolha do candidato a apoiar pelo partido, os militantes e simpatizantes do PS terão visto na candidatura de Manuel Alegre a possibilidade de mostrar um "cartão amarelo" a Sócrates (mais do que a Soares) e, muito importante, sem precisarem de trair o seu ideário socialista. Foi, por assim dizer, uma autêntica revolta dos militantes.

Nesse sentido, a "derrota" não terá sido do PS - que logo reagrupará as suas forças - mas do seu secretário-geral. Foi este que falhou em toda a linha com uma estratégia político-eleitoral que, ainda que circunstancialmente, só lançou confusão e dividiu o partido. Até que ponto tão notório fracasso descapitalizou a sua liderança é o que falta saber.

30 janeiro 2006

Excerto de um livro não anunciado (284)

É certo que já o filósofo da corrente fenomenológica, Robert Solomon, tinha defendido no seu livro "The Passions.The Myth and Nature of Human Emotions" (1976), que as emoções desempenham um papel fundamental nos nossos juízos ou decisões: “diz-se que as emoções distorcem a nossa realidade; eu defendo que elas são responsáveis por ela. As emoções, dizem, dividem-nos e desencaminham-nos dos nossos interesses; eu defendo que as emoções criam os nossos interesses e os nossos propósitos. As emoções, e consequentemente as paixões em geral, são as nossas razões na vida. Aquilo a que se chama ‘razão’ são as paixões esclarecidas, ‘iluminadas’ pela reflexão e apoiadas pela deliberação perspicaz que as emoções na sua urgência normalmente excluem” (*).Esta intuição sobre a racionalidade das emoções foi aliás partilhada por diversos outros autores, cujas obras - entre as quais se destaca The Rationality of Emotion do filósofo luso-canadiano Ronald De Sousa (1991) - vieram pôr em causa a clássica dicotomia entre razão e emoção. Mas é com Damásio que a impossibilidade de separar a racionalidade das emoções surge devidamente caucionada pela metodologia científica.

(*) Cit. in Daniel Goleman, (1996), Inteligência Emocional, Lisboa: Círculo dos Leitores, p. 11

Troca de nome

Há alguma coisa mais embaraçosa do que trocar o nome de alguém? Se se trata de um ilustre desconhecido, ainda vá que não vá. Mas de uma personalidade tão conhecida como é o caso do actual Provedor dos Leitores do Público? Imperdoável. Pois foi o que fiz há dias num certo post. Escrevi o nome deste senhor quando estava a pensar, mais exactamente, neste (por sinal ambos ligados à comunicação e a Timor). Lapso corrigido. Peço desculpas aos dois e a todos, afinal. Menos a mim.

29 janeiro 2006

Pathos a mais

Hoje, na coluna do Provedor, do Público. O caso do "score" patético.

É somente quando João Cândido da Silva afirma que "como até se verificou pelo desfecho das eleições, Mário Soares foi irrelevante para os eleitores e, por este facto, acabou por obter um 'score' patético", que a acusação que lhe é feita pelo leitor Pedro Aires Oliveira (de destilar um anti-soarismo feroz nas suas crónicas de todos os Sábados, no caderno principal), começa a fazer algum sentido. Se é verdadeira ou não isso já é outra coisa. Mas o jornalista é que não terá contribuído para desfazer a dúvida. E podia. E devia. Ou não?


* Por acaso, ao contrário do que acontece com o supra indicado leitor, concordo inteiramente com o conteúdo da nota relativa a Mário Soares no "Quadro de Honra" do suplemento DiaD, de 2 Janeiro 2006. Mas não é isso que está em causa.

Estranhos aplausos

Estou quase careca só de pensar em como é que a simples limitação das escutas à investigação de um certo número de crimes poderia resolver o verdadeiro problema que, tudo leva a crer, seja o da falta de um controlo eficaz quer sobre as pessoas a escutar quer sobre os respectivos conteúdos. Não sei, por isso, a que se ficaram a dever tantos aplausos. Será que com o frio que vai por aí os nossos deputados passaram a bater palmas a tudo, só para aquecerem as mãos?

28 janeiro 2006

Muita ratice

Aqui há rato - sugere-se. Ratazanas é que nem uma para amostra. No meio disto, o Presidente da República vangloriava-se há dias de que nunca tinha sido insultado. Ainda bem. Porque ao lado de um texto destes (*) o insulto iria parecer uma ingénua metáfora.

(*) Qando lido nas entrelinhas e também nos espaços em branco...

27 janeiro 2006

Excerto de um livro não anunciado (283)

Ora, como diz António Damásio, não parece sensato “excluir as emoções e os sentimentos de qualquer concepção geral da mente, muito embora seja exactamente o que vários estudos científicos e respeitáveis fazem quando separam as emoções e os sentimentos dos tratamentos dos sistemas cognitivos” (*). E referindo-se a tais estudos, o mesmo autor afirma ainda: “as emoções e os sentimentos são considerados entidades diáfanas, incapazes de partilhar o palco com o conteúdo palpável dos pensamentos, que, não obstante, qualificam (...). Não partilho estas opiniões. Em primeiro lugar, é evidente que a emoção se desenrola sob o controlo tanto da estrutura subcortical como da estrutura neocortical. Em segundo, e talvez mais importante, os sentimentos são tão cognitivos como qualquer outra imagem perceptual e tão dependentes do córtex cerebral como qualquer outra imagem” (**). Interessa aqui reter sobretudo esta ideia de que “os sentimentos são tão cognitivos como qualquer outra imagem perceptual”, por ser fácil adivinhar o seu alcance no âmbito de um estudo sobre a persuasão.

(*) António Damásio, (1995), O Erro de Descartes, Mem Martins: Publicações Europa-América, (15ª. ed.), p. 172
(**) Ibidem

Pendência pós-eleitoral

Meter na cabeça que o candidato perfeito não se candidatou.

Limpeza da política

"Limpeza" é, significativamente, a metáfora mais empregue para designar a remoção das mensagens persuasivas políticas, assim equiparadas ao "lixo"

- diz-nos Tito Cardoso e Cunha, neste seu primeiro e excelente post no Retórica e Persuasão.

E o tema não poderia ser mais oportuno, pois ainda nesta terça-feira era notícia no Público:


"Lisboa à espera que a limpem da propaganda"


"Câmara espera que dentro de semanas a cidade fique de cara lavada"

Daí a questão:

Configurará toda esta pressa da Câmara em se ver livre dos cartazes das diferentes candidaturas, uma certa visão de campanha eleitoral (ou da própria política?) como sujidade, algo de que ninguém se pode orgulhar e de que, por isso mesmo, há que fazer desaparecer todos os vestígios o mais rapidamente possível? Não sei. Só sei que uma eventual resposta afirmativa já me pareceu muito mais absurda.


25 janeiro 2006

À tangente

A propósito da tangencialidade no Adufe.pt:

Creio que ninguém no seu perfeito juízo poderia negar que a maioria absoluta de Cavaco Silva foi tangencial. Mas daí a considerar que
foi uma vitória fraca, vai uma enorme distância. É que, se no caso de uma vitória tangencial por maioria relativa (simples) ainda parece admissível (conforme a sua expressão numérica) apelidá-la de vitória fraca, já uma vitória tangencial por maioria absoluta, como o próprio conceito de vitória absoluta sugere, será sempre uma vitória forte. Logo, classificá-la como vitória fraca é, no mínimo, voltar as costas à grandeza dos números. De que lado estará a "retórica", afinal?

24 janeiro 2006

No Público: temos Provedor

Rui Araújo (*), o novo Provedor do Público entrou com o pé direito, ao desmascarar, é o caso, mais uma promoção comercial com aparência de jornalismo, daquelas que só podem criar confusão no espírito do leitor menos atento ou pouco conhecedor deste tipo de contorcionismo editorial, perdão, comercial.

O Director do Público bem tentou relativizar o assunto quando lhe respondeu que "A publicidade não surge assinalada especificamente como tal, porque nos pareceu que a separação era graficamente clara, tal como prevê o Livro de Estilo. Só costumamos assinalar os espaços de publicidade com a palavra "publicidade" quando sentimos que pode existir essa confusão. É, naturalmente, um julgamento subjectivo."

Mas o
Provedor mostra que sabe ao que vem, quando com isenção conclui: "O respeito do princípio de separação da informação e da publicidade deve sempre prevalecer sobre os julgamentos subjectivos. O PÚBLICO podia começar a assinalar todos os anúncios (sem excepção) como "PUBLICIDADE", para evitar promiscuidades". Resta saber se o jornal quererá mesmo acabar com as dúvidas...

(*) E não Rui Marques como, por lapso, inicialmente digitei. Desculpas a Rui Araújo e aos leitores.

23 janeiro 2006

Com sorte

Por este post aprendi hoje que uma vitória eleitoral com 50 vírgula qualquer coisa por cento, é uma vitória fraca. Com sorte, ainda vou aprender mais.

Sondagens sob suspeita

A análise que Pedro Magalhães fez no Público da passada Sexta-feira, sob o título "Sondagens Modos de Usar", é das coisas mais claras, objectivas e cientificamente prudenciais que já li sobre tão controversa matéria. Particularmente pedagógica a detalhada explicação de como os valores das sondagens "não resultam necessariamente de manipulações intencionais com fins políticos ou outros" mas antes de factores tais como o inevitável recurso a uma amostra, a ordem e formulação das perguntas e a forma como se lida com as recusas, não respostas ou indecisos. Onde é pena que Pedro Magalhães não tenha querido ir mais longe é na parte em que dá a entender que o ambiente político e mediático não deve ser "contaminado pela suspeita sistemática acerca de supostamente 'óbvias' intenções por detrás da apresentação deste ou daquele resultado". Principalmente depois de admitir que:

"Não se pode, como é óbvio, rejeitar à partida a ideia de que essas intenções possam, nalguns casos, existir, mas reconheça-se que as motivações políticas por detrás deste tipo de acusações são bem mais evidentes"

A questão é: se uma voz tecnicamente tão autorizada admite, sem mais, que essa intenções de manipulação podem existir, será ainda estranho que os principais actores políticos delas suspeitem? Talvez, por isso, que Pedro Magalhães, depois do que nos tem ensinado sobre sondagens, pudesse agora também tranquilizar-nos sobre a natureza dos procedimentos de controlo e validação ético-científica que nelas vigoram (se for esse o caso) na medida em que concorram para a sua credibilidade.

Plágio argumentativo

* "O que está em causa no domingo é eleição de um Presidente que obedece à Constituição, não é uma tentativa de fazer o que seria um verdadeiro golpe de Estado constitucional." (Ministro Santos Silva)

"Quem fala assim, quem nas poucas coisas que diz comete estes deslizes tão óbvios, tão graves, não pode ser PR" - concluiu Santos Silva (a pensar em Cavaco Silva).

Quem fala assim, quem nas poucas coisas que diz comete estes deslizes tão óbvios, tão graves, não pode ser Ministro - concluo eu (a pensar em Santos Silva) .

Convergência idiossocrática

O jornalista Vicente Jorge Silva acaba de dizer na "SIC- Notícias" que Cavaco tem uma certa convergência idiossincrática com Sócrates. Pode ser. Mas nesse caso talvez fosse mais apropriado falar de convergência idiossocrática...

22 janeiro 2006

Retórica da ocultação

José Sócrates, relativizando o insucesso eleitoral de hoje:

"Já houve eleições em que o partido socialista teve a vitória e outras em que não obteve os resultados que desejava"

Enfim, quando se ganha, é vitória; quando se perde, é... não obter os resultados que se deseja. Ou de como "com a verdade me enganas"...

Votar

Já fui.

20 janeiro 2006

De vez em quando

Vale a pena esperar 2 meses por um post como este.

Só faltava essa

Esta campanha presidencial já dura há tanto tempo que nem me lembro de termos vivido de maneira diferente, antes dela. É, por isso, com natural expectativa que aguardo pela semana que vem. Quero refrescar a memória, mudar de agenda, falar de outras coisas tão importantes na vida. Mas será que vou conseguir? É que do jeito que isto está, receio bem que algum dos não eleitos apresente a sua recandidatura já na próxima 2.ª feira...

Objectividade a metro

Não adianta. Paixão é paixão. E política é política. Uma e outra são fogo que incendeia, são chama que não apaga. Só isso explica que um distinto jornalista possa defender (ainda) este conceito de objectividade a metro.

* Em debate nos comentários do Jornalismo e Comunicação

Excerto de um livro não anunciado (282)

Com efeito se a eficácia da retórica é medida pela adesão do auditório, o orador precisará de avaliar previamente a força dos argumentos a utilizar, tanto do ponto de vista do raciocínio em que se estruturam como do seu impacto emocional. E isto porque a argumentação do orador não se dirige apenas à inteligência dos seus ouvintes, ou seja, aquela não é exclusivamente recebida por uma mente puramente racional. O orador fala para pessoas, não fala para máquinas. Fala para pessoas que pensam e sentem e que, segundo os mais recentes dados científicos disponíveis, analisam os argumentos e tomam as suas decisões com base não só no raciocínio puro mas também na emoção e na afectividade. O que implica, a nosso ver, que se encare a adesão de um auditório como um acto complexo que o mero valor lógico ou quase lógico de um argumento não permite esclarecer ou justificar. Sendo certo, como sustenta Perelman, que a adesão do auditório representa a comunhão das mentes, importa porém, esclarecer previamente de que mentes falamos.

19 janeiro 2006

Coisas da política

"A política parece cada vez mais uma administração de palavras e não de coisas"

Gonçalo M. Tavares

in Público, 13 Janeiro 2006

18 janeiro 2006

Os dois tipos de retórica

"[Há uma] diferença crucial entre dois tipos de argumentação retórica: aquela que é retórica apenas em função das limitações externas do debate, e aquela que é retórica por essência e fatalidade, por não poder ser outra coisa e por não poder valer senão retoricamente, isto é, como aparência persuasiva para um auditório determinado. A diferença vem da ambigüidade mesma do verossímil. Verossímil é parecer verdade. Mas há um parecer que é um aparecer e um parecer que é simular: há uma verossimilhança que é face externa da verdade profunda e uma verossimilhança que se finge de verdade, que usurpa o lugar da verdade e recebe as honras devidas à verdade."

Olavo de Carvalho

Excerto de um livro não anunciado (281)

Compreende-se portanto que Perelman tenha limitado o âmbito da sua investigação aos “recursos discursivos para se obter a adesão dos espíritos” (*), mas já parece pouco consistente que depois de ter admitido que a tentativa de estudar os efeitos sugestivos produzidos pela argumentação poderia ser fecunda, nos venha dizer que isso, porém, “deixaria escapar o aspecto de argumentação que queremos, precisamente, pôr em evidência” (**). Principalmente se, como pensamos, a dissociação operada entre os elementos intelectuais e emocionais da argumentação, levar a uma artificial fragmentação do acto retórico que só pode dificultar a comprensão global deste último.

(*) Chaim Perelman, (1999), Tratado da Argumentação, S. Paulo: Martins Fontes, p. 8
(**) Chaim Perelman, (1997), Retóricas, S. Paulo: Martins Fontes, p. 82

Liberdade digitalizada

"A maior parte das pessoas não sabe que, quando entra na internet, as suas acções estão a ser seguidas"

Howard Rheingold

in "Pública", Público, 15 de Janeiro 2006

17 janeiro 2006

Sem complexos

O candidato da direita ultrapassou-me hoje pela esquerda.

16 janeiro 2006

Auditório íntimo

Convencer a si mesmo é a parte mais importante da retórica.

Frederick van Amstel

Jornalismo da referência

Há referências que parecem mais desabonatórias para quem as faz do que para quem se destinam. É o caso desta pérola sem assinatura no último número da Visão:

"NUM ANO MUITO DIFÍCIL para a generalidade dos títulos, e em que muitas marcas recorreram a investimento maciço em promoção para sustentarem as suas vendas - como foi o caso da Sábado, que, em 2005, para além de uma agressiva política de brindes, gastou em publicidade quase o dobro da VISÃO (2,216 milhões de euros, contra 1,245 milhões de euros, segundo dados do Mediamonitor da Marktest) -, a nossa revista manteve o segundo lugar no ranking dos semanários, continuando a liderar, destacada, o segmento das revistas."

Que surpresa poderia causar o facto de uma revista com pouco mais de ano e meio, gastar em publicidade o dobro de uma outra que já se publica desde 1993? E o que é que isso tem a ver com a qualidade de ambas? Confesso que já me deparei com melhores argumentos de venda na Feira de Espinho. Aonde nunca fui enganado
.

Democracia eleitoral

Foi agora mesmo, na TSF. Uma popular mais inflamada repetindo para Manuel Alegre:

- O meu voto é seu, o meu voto é seu, não é do gordo.

A repórter, por perto, interroga-a:

- Porque é que diz que vai votar nele?

Resposta da popular:

- Porque gosto do senhor, gosto muito dele e porque o Mário Soares já mamou muito.

Publicado também n'O Eleito.

Post it (2)

"não querer saber é o fim de tudo"

Carlos Fiolhais, Notícias Magazine, 15 Janeiro 2006

Post it (1)

"A ciência é a recusa permanente do erro"

Carlos Fiolhais, Notícias Magazine, 15 Janeiro 2006

Que pena

Carlos Fiolhais, à "Notícias Magazine", de ontem:

"João Magueijo diz que no passado a luz terá viajado com velocidade maior do que hoje. Por isso, para ele, a velocidade constante não poderá ser a base de uma teoria física"

"Até agora, tanto quanto se sabe, Magueijo não tem razão. Não há nenhuma evidência experimental para o que ele diz e a experiência é o juiz
da física"

14 janeiro 2006

Excerto de um livro não anunciado (280)

Antes de mais, porque é o próprio Perelman quem reconhece a presença da emoção e até da sugestão na própria relação argumentativa, como se pode confirmar por esta sua passagem na Retóricas, onde depois de observar que a área da argumentação retórica não pode ser reduzida nem ao argumento lógico nem à sugestão pura e simples, caracteriza deste modo os dois possíveis caminhos de investigação: “A primeira tentativa consistiria evidentemente em fazer da argumentação retórica uma lógica do provável (....) a segunda tentativa consistiria em estudar os efeitos sugestivos produzidos por certos meios verbais de expressão...” (*). Tratando-se, provavelmente, da sua mais explícita aceitação da emocionalidade que os argumentos provocam no auditório, não é, porém, a única. Já no seu Tratado de Argumentação admitira que “a intensidade da adesão que se tem de obter não se limita à produção de resultados puramente intelectuais, ao facto de declarar que uma tese parece mais provável que outra, mas muitas vezes será reforçada até que a acção, que ela deveria desencadear, tenha ocorrido” (**). Ou seja, não só a argumentação produz determinadas alterações emocionais no auditório, como tais alterações são voluntariamente provocadas, quando o orador as considere necessárias para obter a adesão à respectiva tese ou proposta.

(*) Chaim Perelman, (1997), Retóricas, S. Paulo: Martins Fontes, p. 82
(**) Chaim Perelman, (1999), Tratado da Argumentação, S. Paulo: Martins Fontes, p. 55

13 janeiro 2006

Uma aposta ecológica

Pelos vistos, a Ana Sá Lopes aproximou-se tão perigosamente de Manuel Alegre que acabou por sucumbir aos seus olhos verdes. Do mal o menos: com a poluição política que por aí vai, faz todo o sentido apostar no verde.

12 janeiro 2006

Surfar sem vento

A Casa de Fernando Pessoa vai ser dirigida pela pessoa mais indicada. "Não se trata de um ruptura com nada", afirmou, ao mesmo tempo que anunciava algumas das prioridades do seu programa de actividades: abertura do espaço à cidade, conquista de novos públicos (incluindo o público escolar) e relançamento com novo grafismo da emblemática revista Tabacaria. Esse parece ser o grande segredo de Francisco José Viegas: meter mãos à obra, sem ferir a susceptibilidade de ninguém. O que nos nossos dias é seguramente mais difícil do que surfar sem vento. Parabéns.

11 janeiro 2006

Jornalismo é outra coisa

No telejornal da TVI, hoje, à hora do almoço:

* Voz off (em grande destaque):

"Mário Soares reconhece que pode ter sido um erro a sua candidatura"

* Jornalista-apresentador:

"Mário Soares reconhece que pode ter sido um erro a sua candidatura"

* Jornalista-repórter:

"Acha que foi um erro Mário Soares ter-se candidatado?" (acho que não, responde a popular interpelada)

* Vídeo-reportagem:

(Aparece Mário Soares a declarar que se vier a perder as eleições pode vir a concluir que o juízo que fez quando decidiu candidatar-se foi um juízo errado)

Conclusão:

Mário Soares não declarou que a sua candidatura pode ter sido um erro mas sim que SE vier a perder as eleições, reconhecerá que errou no juízo que fez quando se decidiu candidatar. O que é, não apenas muito diferente, como absolutamente trivial, já que qualquer dos outros candidatos o poderia também afirmar agora.

Se todos estão convencidos de que podem vir a ganhar, os que vierem a perder poderão emitir idêntica afirmação, sem que daí se possa concluir que as suas candidaturas foram um erro. Só que, como se sabe, o que é trivial não é notícia. E um telejornal vive de notícias.

Solução da TVI: foi ao facto e "torceu-o", literalmente. E assim conseguiu transformar uma sincera e inofensiva declaração (de Soares), numa afirmação que só é bombástica por parecer o que não é: uma notícia. Ainda por cima, falsa. Não se faz (a nenhum dos candidatos).

Bem pode dizer-se, portanto, que o erro foi da TVI. Um erro tão grosseiro que vai para além da simples (mas já criticável) falta de rigor. Não queria chamar-lhe manipulação mas é a única coisa que me vem à ideia.

Nota-Já nem comento a "pergunta-dirigida" da jornalista-repórter.

Publicado também n'O Eleito.

Um Presidente para facilitar a vida?

E alguém pode acreditar que o candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS, em sendo eleito, venha a ter, afinal, como principal preocupação facilitar a vida ao governo do PS e permitir a Sócrates chegar a 2009 e ganhar de novo as eleições legislativas desse ano contra os partidos que agora apoiam aquele?

(Vital Moreira, Público, 10 Janeiro 2006)

Membro da comissão política da candidatura de Mário Soares, Vital Moreira tem usado a crónica semanal de que dispõe no Público para propagandear até à medula o seu próprio candidato ou, mais exactamente, para dizer (apenas) mal do principal adversário. Sempre me interrogo sobre a verdadeira eficácia persuasiva deste método que passa por advogar publicamente uma causa de que se é parte, mas adiante, que, por agora, não é a isso que venho. Quero é referir-me à principal característica ou condição que, segundo Vital Moreira (ver citação acima), o próximo Presidente da República deveria preencher: a de facilitar a vida ao Governo PS.

Daí que me pergunte:

1) por que razão deveria o próximo Presidente da República ter como principal preocupação facilitar a vida ao governo do PS (presume-se que mesmo no caso de governação ruinosa) e permitir a Sócrates chegar a 2009 e ganhar de novo as eleições legislativas desse ano?

2) não deverá a cooperação entre Presidente da República e Governo assentar antes numa recíproca atitude de respeito, exigência e rigor?

3) pretende Vital Moreira partidarizar o cargo presidencial? Certamente que não. Mas então porque vem (indirectamente) defender que o próximo Presidente da República deveria facilitar a vida ao Governo do PS?

4) mais grave: porque deveria um Presidente permitir a Sócrates a sua reeleição em 2009?

5) Ou ainda: como consegue Vital Moreira saber já hoje que Sócrates será a melhor escolha daqui por três anos?

Publicado também n'O Eleito.

Excerto de um livro não anunciado (279)

Percebe-se aqui uma certa preocupação de Perelman em evitar, desde logo, que a persuasão da retórica, melhor dizendo, da “sua” nova retórica, pudesse ser vista como mais uma entre as muitas formas de manipulação emocional, sabendo-se, como se sabe, que esta última surge habitualmente associada ao cercear da liberdade do interpelado, através de uma pressão ou bloqueamento psicológico que tendem para a redução da sua capacidade crítica e para o inerente conformismo com a solução que lhe é apresentada. Ainda assim, surpreende o seu quase total silêncio sobre a persuasão.

10 janeiro 2006

O perigo de viver em tempo de paz (2)

A quem tenha considerado como alarmista o meu anterior post sobre o "galopante aumento da criminalidade" sugiro que passe os olhos pela edição de hoje do DN (jornalismo de referência) e em especial por este título:

"Hoje há uma banalização do uso de uma arma de fogo"

A salientar também:

"Armas Circulação de pistolas de alarme adaptadas, caçadeiras de canos serrados e armamento com calibre de guerra está a gerar grande preocupação"

"(...) Rui Sá Gomes, membro do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) para quem o emprego de uma arma de fogo, mesmo em crimes menores, se tornou uma banalidade."

"Nos últimos anos, tem-se verificado um aumento no emprego de armas, mesmo nos chamados pequenos crimes, como os crimes contra o património"


Parece que o alarme emerge, afinal, da própria realidade e não da sua divulgação ou notícia. São os factos que falam por si. A sua invocação é, aliás, um dos mais confiáveis recursos retóricos. Não se trata, por isso, de gritar "Às armas, às Armas" em nome de eventual (e despropositada) mentalidade securitária mas, pelo contrário, de preferir que tais armas fiquem nas mãos das autoridades, em vez de continuarem ao alcance dos fora-da-lei e até das suas potenciais vítimas. Sob pena, insisto, de se tornar cada vez mais perigoso viver em tempo de paz.

09 janeiro 2006

Malditos comentadores (2)

Pina Moura, ao defender-se escudando-se na ideia de que "a ética da República é a ética da lei", está apenas a dizer-nos que não precisa de ter consciência, apenas necessita de um bom advogado.

José Manuel Fernandes, no Público de hoje.

Já toda a gente percebeu

Creio que Cavaco Silva não precisava de repetir tantas vezes que não é um homem de retórica.

Já toda a gente percebeu.

Já toda a gente percebeu que se fosse um homem de retórica nunca diria que "Teve a sorte de conhecer a democracia de Abril de 1974" quando está a concorrer contra candidatos que, nessa matéria, foram bem mais longe: bateram-se por ela.

Já toda a gente percebeu que se fosse um homem de retórica nunca teria sublinhado que "teve sempre a mesma mulher" deixando no ar a ideia de que ter mais do que uma mulher ao longo da vida desqualifica qualquer (candidato) homem de família...

Já toda a gente percebeu.


Publicado também n'O Eleito.

Retórica Multi-usos (5)

"Eu não sou um homem de retórica, é óbvio, mas sou um homem que comunica. É do poder da comunicação que falo."

Cavaco Silva, Visão n. 670, 5 a 11 Janeiro 2006

A anedota do economista

Pode até parecer estranho que Soares não tenha ainda recorrido a esta bem-humorada anedota para combater a especialização económica do “outro” candidato:

[É a história] de dois ocupantes de um balão que, por causa da inesperada intensidade do vento, se desvia do seu caminho, voando para paragens desconhecidas. Avistando alguém a passar em terra, os dois pilotos largam lastro e fazem descer o balão de forma a poderem informar-se. Um deles pergunta se o passante lhes pode explicar onde estão, ao que este responde que se encontram dentro de um balão, seguindo, de imediato, o seu caminho. Perante isto, o segundo piloto afirma, categoricamente: "Aquele homem é economis­ta". "Como sabes?", indaga o seu companheiro no interior do balão. "Porque a resposta está correctíssima, mas é completamente inútil."
(via DIA D, Público n.º 5747)

Pena é que a anedota não se confunda com a realidade - pensará Mário Soares. E pensará muito bem.

Publicado também n'O Eleito.

08 janeiro 2006

O candidato das sondagens

Manuel Alegre continua a ser o mais original dos candidatos: em vez de puxar pelas sondagens é puxado por elas.

Quererá isto dizer que está na hora de se pôr de lado a dramatização impostora dos falsos afectos, os beijinhos e os abraços do costume, os estafados truques e picardias com que se visa denegrir as restantes candidaturas, a antecipação de tenebrosos cenários, os fantasmas do medo e da própria guerrilha institucional? A ver vamos. Mas o facto da digna postura eleitoral do candidato Manuel Alegre encontrar eco nos bons resultados das sondagens é, pelo menos, um bom indício de que, também aqui, algo pode estar a mudar. Oxalá que sim.

Publicado também n'O Eleito.

O perigo de viver em tempo de paz

Helena Matos, no Público de ontem:

"Francisco Ramirez, assim se chama o cidadão em causa, possuía várias armas todas devidamente legalizadas. Vivia no que se considera uma boa casa e passava o serão na companhia da sua mulher quando um grupo de oito homens entrou casa dentro. Minutos antes estes homens tinham manietado o caseiro e o seu filho e conseguido que estes lhes dessem a chave da casa habitada por Francisco Ramirez e Beatriz Ferri. Uma vez aí dentro amarraram a mulher e acompanharam o dono da casa à divisão onde este afirmava ter as jóias. Em vez das ditas jóias Francisco Ramirez segurou uma arma e disparou sobre os assaltantes. Dois morreram. Os outros puseram-se em fuga. No ar, além do estampido das balas, fica também uma pergunta: foi preciso chegar a isto para se dar alguma atenção às queixas dos cidadaos espanhóis sobre a violência crescente de que estavam a ser vítimas? O gesto de Francisco Ramirez merece particular atenção. Exaustos com uma justiça incompreensível, muitos cidadãos, sejam espanhóis, portugueses ou brasileiros, podem começar a encarar este tipo de resposta como a única que lhes resta."

De facto, governos, políticos e os próprios cidadãos parecem continuar a encolher os ombros perante o galopante agravamento da criminalidade. Mas é, talvez, tempo de enfrentar seriamente o problema porque no dizer autorizado de um antigo combatente, está já mais perigoso viver em tempo de paz do que viver em tempo de guerra
.

07 janeiro 2006

Retórica na Universitat de Barcelona

Saudações académicas para a Universitat de Barcelona que acaba de lincar o Retórica e Persuasão.

Malvados comentadores

"(...) conflitos de interesses, jogos de influência e promiscuidade política protagonizados pelo deputado socialista Pina Moura, que, recorde-se, enquanto ministro das Finanças abriu as portas à implantação da Iberdrola em Portugal e se tornou, depois, o seu agente em Lisboa."

Está tudo muito bem mas Pina Moura poderá ser acusado de tudo menos de falta de transparência. Nem cartas debaixo da mesa, nem truques proibidos. O ex-Ministro das Finanças e agora presidente da Iberdrola Portugal, limitou-se a escolher os melhores parceiros e a jogar os seus trunfos à vista de todos. Legalmente, diz-se. Os comentadores é que são uns desconfiados e não param de insinuar. Falta-lhes aquela inocência própia de quem tudo perdoa e esquece. Falta-lhes, sobretudo, a ingenuidade do ex-governante. Malvados comentadores.

05 janeiro 2006

Excerto de um livro não anunciado (278)

Uma outra razão que pode ter levado Perelman a cingir-se praticamente ao estudo da estrutura racional da argumentação, tem a ver com a sua confessada preferência pelo apelo à razão em desfavor do apelo à vontade. Essa preferência poderemos descortiná-la na forma como justifica a importância particular que no seu Tratado da argumentação irá conceder às argumentações filosóficas, as quais, no seu entender, são “tradicionalmente consideradas as mais ‘racionais’ possíveis, justamente por se presumir que se dirigem a leitores sobre os quais a sugestão, a pressão ou o interesse têm pouca ascendência” (*). Não admira por isso que, de quando em vez, nos fale de persuasão racional, no aparente propósito de esconjurar definitivamente toda e qualquer hipótese de actuação directa sobre a emoção do auditório. É o que podemos ver nas suas referências aos “ataques dos filósofos à teoria da persuasão racional desenvolvida nas obras de retórica” (**) ou quando, a propósito da oposição entre argumentação e violência, vem afirmar que “o uso da argumentação implica que se tenha renunciado a recorrer unicamente à força, que se dê apreço à adesão do interlocutor, obtida graças a uma persuasão racional...” (***).

(*) Chaim Perelman, (1999), Tratado da Argumentação, S. Paulo: Martins Fontes, p. 8
(**)
Ibidem, p. 51
(***)
Ibidem, p. 61

04 janeiro 2006

Uma ética de serviços mínimos

Esta ainda não conhecia: segundo acaba de revelar Lobo Xavier na Quadratura do Círculo (SIC-Notícias), Pina Moura terá dito em tempos que "a única ética que conhece é a ética republicana e a ética republicana é a Lei". Uma "ética de serviços mínimos", portanto. Está (quase) tudo explicado.

Dilema mediático

Como pode a Comunicação Social dar menos atenção a Cavaco se o próprio Soares só fala dele?

Publicado também n'O Eleito.

Excerto de um livro não anunciado (277)

Mas não será a estrutura da argumentação, ela própria, uma maneira pela qual se efectua a comunicação com o auditório? Salvo melhor opinião, a resposta só pode ser afirmativa, pelo que se a intenção fica clara, o mesmo já não sucede com a justificação. É de admitir que a esta sua posição não seja de todo alheia a intenção de se demarcar da propaganda e dos meios persuasivos de duvidosa legitimidade a que aquela muitas vezes recorre. Pelo menos, é o que se pode inferir do modo comparativo como Perelman delimita o condicionamento do auditório no interior da retórica. “Um dos factores essenciais da propaganda (....) é o condicionamento do auditório mercê de numerosas e variadas técnicas que utilizam tudo quanto pode influenciar o comportamento. Essas técnicas exercem um efeito inegável para preparar o auditório, para torná-lo mais acessível aos argumentos que se lhe apresentarão. Esse é mais um ponto de vista que a nossa análise deixará de lado: trataremos apenas do condicionamento do auditório mediante o discurso...” (*).

(*) Chaim Perelman, (1999), Tratado da argumentação, S. Paulo: Martins Fontes, p. 9

02 janeiro 2006

Um Ministério muito familiar

01 janeiro 2006

Soares e o Paris-Dakar eleitoral

No início da chamada pré-campanha eleitoral, surpreendeu-me a boa forma física e frescura de espírito com que Mário Soares partiu à procura dos votos, dialogando por todo o país. Hoje temo que se tenha excedido, quando o vejo ofegante e com manifesta dificuldade na coordenação das respectivas frases ou afirmações. E pese embora a paixão política e o espírito combativo de que mais uma vez tem dado mostra, há limites que talvez fosse mais avisado não transpor.

Está na hora de reconhecer que campanhas eleitorais como as que têm vindo a decorrer entre nós, são verdadeiramente desumanas. As viagens diárias por um país corrido de lés-a-lés em várias direcções e repetidas vezes; as visitas a fábricas, a feiras e mercados, a creches, a hospitais e ao sr. governador civil; os comícios, os jantares-convívio, a apresentação de cumprimentos, os passeios de rua, as entrevistas à comunicação social; a perna de frango engolida à pressa, o irrecusável pé de dança, as fotografias da praxe. Eis o programa de loucos que, em princípio, espera qualquer candidato e que, pelos vistos, igualmente espera Soares.

Mas é urgente acabar com esta moda que, além de pouco abonatória da nossa cultura democrática, sujeita os candidatos a um desgaste físico e psicológico manifestamente gratuito e desproporcionado. Reconheça-se, de uma vez por todas, que uma campanha eleitoral não é nenhum "Paris-Dakar" nem qualquer outra prova de resistência. E Mário Soares, melhor do que ninguém, devia saber disso. Até porque, seja cansaço, seja o que for,
é sempre penoso assistir a uma coisa destas. Por uma questão de respeito e pudor, ou de mera estratégia eleitoralista, haverá quem prefira fazer de conta que nada se passou. Mas é um erro porque, ontem como hoje, o pior cego é o que não quer ver. (vídeo)

(texto inspirado no post "E se fosse o Cavaco a fazer isto????", do Mau tempo no canil)

Publicado também n'O Eleito.

No comércio das crenças

"historicamente, são em geral os defensores de doutrinas que não resistem à discussão objectiva e racional que têm tendência para matar e torturar para impor as suas crenças - precisamente porque compensam com a força bruta a falta de argumentação sólida, baseada na verdade."

Desidério Murcho, (2006), PENSAR OUTRA VEZ: FILOSOFIA, VALOR E VERDADE, Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, pp. 40-41