Agarrem-me que eu candidato-me
Quem apregoa aos quatro ventos que "Um homem não se rende, seria aliás uma grande falta de educação» ou fica escravo da sua palavra até ao fim ou cobre-se de ridículo quando praticamente no dia seguinte se põe de joelhos precisamente perante quem o acossou: o próprio partido.
O alegado risco de com a sua candidatura fracturar o partido e dividir a esquerda onde, aliás, se detecta algum excesso de presunção, não passa, obviamente, de mera desculpa para disfarçar a derrota pessoal na única saída que lhe resta: recuar.
Se essa fosse uma boa razão para desistir, porque seria boa apenas para ele e já não para Soares ou para Sócrates? Porque teria, ainda assim, de ser ele a desistir "por mor do partido" quando reconhece que não foi ele quem dividiu? Não lhe teria ficado melhor declarar que desiste da sua candidatura porque, como ainda há semanas atrás reconhecia ao Expresso, é neste momento um homem sozinho?
De Alegre, sinceramente, esperava outra nobreza na renúncia da noite passada, em Viseu. Esperava que não continuasse a alimentar a novela do "agarrem-me que eu candidato-me". Esperava que desse o incidente por encerrado e terminasse com uma auto-vitimação que raia o patético. E já agora, porque não? Que reconhecesse também os seus próprios erros, que os teve, sem dúvida, neste período de pré-candidatura.
Vital Moreira já o lembrou no Causa Nossa. Apesar da natureza pessoal da candidatura à presidência, Alegre não quis avançar sozinho, como o fizera Jorge Sampaio. E isso quando tinha tudo para "matar" a questão ali mesmo, pois, como é natural, seria muito difícil que o PS ousasse afrontá-lo posteriormente com a escolha de um outro candidato. O que aconteceu é que falhou na sua estratégia de pré-candidato, se é que algum dia a teve. Assim como falhou na estratégia de pós-candidato, ao limitar-se a "fazer render o peixe" mediático com o suposto tabu da sua candidatura.
O que Alegre vem mostrando, afinal, é que não possui mesmo perfil para Presidente da República. E isso, de tão surpreendente, até pode fazer cair no esquecimento a deselegância ou traição de que foi alvo. Já não sei o que será mais lamentável.